Gavião aprende a usar sinal de trânsito para caçar. Entenda
Tática urbana incomum foi observada por zoólogo durante várias manhãs no trânsito de Nova Jersey, nos EUA, e descrita em artigo científico
atualizado
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Em uma esquina tranquila de West Orange, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, um gavião-de-cooper (Astur cooperii) encontrou um jeito curioso de garantir o café da manhã. Em vez de caçar em florestas ou se lançar de galhos altos, ele ou a usar o barulho dos sinais de pedestres e os carros parados no semáforo como aliados na hora da caça.
Quem notou o comportamento foi o zoólogo norte-americano Vladimir Dinets, professor da Universidade de Miami. Ele encontrou o gavião por acaso em uma manhã de outono, enquanto levava a filha para a escola.
Intrigado, ele voltou ao mesmo cruzamento em outros dias e percebeu um padrão: o gavião só aparecia quando o sinal sonoro para pedestres tocava, e antes mesmo da fila de carros se formar.
Caça camuflada no trânsito
O som que indica a travessia para pedestres se tornou parte da rotina de caça do gavião. Para o animal, era um sinal de que, em instantes, se formaria uma fila de carros e ele poderia usá-la como cobertura.
Era nesse momento que ele surgia, voando baixo pela calçada, oculto entre os veículos, até desviar em direção ao jardim de uma casa próxima. Ali, restos de comida deixados por moradores atraíam aves como pardais, pombos e estorninhos, presas comuns para a espécie.

Em pelo menos duas ocasiões, o professor viu o gavião capturar um pardal e devorar uma pomba no chão.
“O sinal sonoro fazia o semáforo vermelho durar mais, o que garantia uma fila de carros longa o suficiente para esconder o ataque. Era curioso que, sem som, ele nem aparecia”, explica Dinets.
Como o gavião se adaptou ao ambiente urbano
O comportamento foi descrito por Dinets em um artigo publicado na revista Frontiers in Ethology nessa quinta-feira (22/5) e mostra como a espécie pode se adaptar ao ambiente das cidades.
Para realizar os ataques com precisão, o gavião parece reconhecer padrões no trânsito e no comportamento das presas, além de ter um bom conhecimento da área onde caça.
“Eles precisam planejar com antecedência, entender os movimentos da presa e ser muito atentos. É uma demonstração clara de como conseguem ligar causa e efeito e tirar vantagem do ambiente urbano”, explicou o pesquisador.
Apesar dos riscos enfrentados por aves de rapina nas cidades, como colisões com janelas, fios ou veículos, o gavião-de-cooper parece saber aproveitar as oportunidades. “Minhas observações sugerem que esses gaviões se saem bem nas cidades justamente porque são muito inteligentes”, concluiu Dinets.
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