Governo aguarda manifestação de Bolsonaro para iniciar tratativas com Biden
Pouco mais de três semanas depois do resultado das urnas, o presidente brasileiro ainda não parabenizou o presidente eleito dos EUA
atualizado
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Embora sem reconhecer oficialmente a derrota as eleições, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve que autorizar o o da equipe de Joe Biden aos documentos para dar início à transição de governo nesta semana.
Apesar disso, o presidente Jair Bolsonaro mantém o silêncio sobre a vitória de Biden. Vinte dias depois de confirmado o resultado das urnas pela imprensa americana, o presidente brasileiro ainda não cumprimentou o futuro mandatário do 2º maior parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos.
Biden foi apontado como vencedor em 7 de novembro, nas tradicionais projeções da imprensa norte-americana, de que o democrata atingira os votos necessários para ser eleito no Colégio Eleitoral. Trump ainda tenta reverter na Justiça o resultado que deu vitória ao rival.
Diante da resistência de Bolsonaro em reconhecer o resultado das urnas, membros do governo, como o ministros de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também escalado para ajudar neste contato, têm mantido uma rotina de reuniões com o atual embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman. No entanto, a ordem é não falar sobre o assunto antes de qualquer manifestação do presidente.
Timing
Indicado por Trump, Chapman tem sua imagem muito ligada ao republicano e não mantém diálogo com os democratas. Ou seja, não seria fácil, por meio dessa via, uma ponte com a equipe de Biden. Chapman planeja falar sobre o assunto somente no próximo dia 14 de dezembro, data marcada para que o Colégio Eleitoral norte-americano declare oficialmente o resultado das eleições. Até lá, manterá a postura de não se posicionar sobre o democrata.
Esse poderá ser o tempo também para que o presidente Bolsonaro autorize, com uma posição oficial, qualquer aproximação, de acordo com integrantes do governo. O presidente russo, Vladimir Putin, que trocou elogios com Bolsonaro durante o encontro do G20, há dias semanas, adotou a mesma postura.
Putin disse que está preparado para trabalhar com qualquer líder dos Estados Unidos, mas ainda não está pronto para reconhecer a vitória do democrata Joe Biden. O presidente russo também deverá esperar o resultado oficial.
Silêncio
Enquanto isso, o silêncio sobre as estratégias de aproximação com Biden também se impõe sobre o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster, um dos envolvidos na operação de busca de contato com os democratas em Washington.
Nesta semana, Biden anunciou parte de seus secretários, inclusive os que cuidarão das relações com outros países, ou seja, futuros interlocutores com países como o Brasil. Entre os nomes anunciados está o de John Kerry, ex-secretário de Estado no segundo mandado de Barack Obama e um dos quadros mais importantes do partido, tendo sido o nome dos Democratas na disputa à presidência em 2004, quando perdeu para o republicano George W.Bush.
Segundo Biden, Kerry será responsável por uma espécie de Ministério do Clima – a função especial é “enviado presidencial especial”. Ele foi um dos arquitetos do Acordo de Paris, do qual Trump retirou os EUA, e terá assento no Conselho de Segurança Nacional. Pela primeira vez, uma autoridade dedicada à sustentabilidade terá essa prerrogativa.
Espionagem
Kerry não é um desconhecido da diplomacia brasileira. Pelo contrário: em 2013, quando a relação do então governo de Dilma Rousseff com os americanos havia ficado arranhada devido à espionagem feita pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA), o então chanceler foi escalado para tratar do assunto com o então vice-presidente americano Joe Biden.
Kerry, na época, era secretário de Estado e, em meio às notícias reveladas pelo site Wikileaks, chegou a confirmar a posição brasileira de parceiro comercial estratégico, deixando de lado o desgaste com a espionagem.
John Kerry é casado com Teresa Simões-Ferreira Heinz Kerry, moçambicana de ascendência portuguesa, que já disse entender um pouco o português.
Tema sensível
A entrada de Salles na negociação no m0mento se dá pelo fato de que a questão ambiental é crucial para as relações com o novo governo. O ministro já teria inclusive se oferecido para ir aos Estados Unidos e tentar desfazer a péssima imagem do Brasil nessa área com interlocutores do novo governo.
Tentar uma interlocução na questão ambiental, no entanto, depende do sinal de Bolsonaro.
Outros líderes
Enquanto Bolsoanro faz silêncio em relação a Biden, na quarta-feira (25/11), o presidente da China, Xi Jinping, parabenizou o democrata pela vitória nas eleições.
O país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil e já havia parabenizado o sucesso de Biden nas urnas por meio do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Wang Wenbin.
Nesta semana, o presidente chinês enviou uma mensagem ao democrata desejando que Washington e Pequim possam promover relações bilaterais de forma saudável e pacífica.
Biden também já recebeu cumprimentos do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, um aliado de Bolsonaro, no domingo (8/11).
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também já cumprimentou o democrata pela vitória.