Aliança pelo Brasil defende Deus, armas e oposição ao comunismo
Em discurso, o presidente disse querer que a nova legenda “reze nossa cartilha”: “Assim atingiremos de verdade os nossos objetivos”
atualizado
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O partido Aliança pelo Brasil, que o presidente Jair Bolsonaro trabalha para tirar do papel, realiza, nesta quinta-feira (21/11/2019), a sua convenção de lançamento, sob forte discurso de respeito a Deus, a religiões e de oposição a movimentos de esquerda. Bolsonaro assinou, na terça-feira 19/11/2019, a desfiliação do PSL, partido pelo qual se elegeu em 2018. Em discurso, o presidente disse querer que a nova legenda “reze nossa cartilha”. “Assim atingiremos de verdade os nossos objetivos”, explicou.
A fala de Bolsonaro foi feita a uma plateia inflamada, com seus apoiadores participando, aos gritos, em apoio ao presidente. Não faltaram também críticas da plateia a parlamentares vistos pelos bolsonaristas como “traidores”, como o deputado federal por São Paulo Alexandre Frota, agora no PSDB. Aos apoiadores, o presidente Bolsonaro disse que críticas ao governo são bem-vindas, mas pediu comedimento. “Vamos fazer críticas, mas moderadas.”
Em um auditório lotado de um hotel de luxo de Brasília, a advogada Karina Kufa fez, antes do discurso de Bolsonaro, a leitura dos princípios do partido. “O povo deu norte da nova representação política. Em 2019, novo o precisa ser dado. Criar partido que dê voz ao povo brasileiro”, afirmou.
Karina Kufa afirmou que o partido é conservador, comprometido com a liberdade e ordem, soberanista e de oposição às “falsas promessas do globalismo”.
O programa tem os seguintes princípios:
- respeito a Deus e à religião
- respeito à memória e à cultura do povo brasileiro
- defesa da vida
- garantia de ordem e da segurança. O programa afirma que o partido “reconhece o lugar de Deus na vida, na história e na alma do povo brasileiro”. Há ainda defesa da posse de armas.
Karina Kufa disse que o partido “se esforçará para divulgar verdades sobre crimes do movimento revolucionário, como comunismo, globalismo e nazifascismo”. Ainda segundo a advogada, a sigla estabelecerá relações com partidos e entidades de países que “venceram o comunismo”, como os do Leste Europeu.
“O Aliança pelo Brasil repudia o socialismo e o comunismo”, afirmou Karina Kufa. A frase foi bastante aplaudida pelos presentes. A plateia começou a gritar: “A nossa bandeira jamais será vermelha”.
Eleições 2020
Antes de ir para o evento, Bolsonaro disse que não “entra” na eleição para prefeito e vereadores em 2020, caso a criação do partido Aliança Pelo Brasil não seja aprovada até março. “Se for possível a [coleta de s para criação da legenda] eletrônica, a gente forma um partido para março. Se não for possível, eu não vou entrar em disputas municipais no ano que vem, estou fora.”
Crítico do voto eletrônico, Bolsonaro questionou: “Estamos aguardando decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se pode a coleta de eletrônica. O voto pode, não pode? De acordo com a decisão, a gente vai saber se forma para março ou para o final do ano que vem”, afirmou o presidente. Em parecer enviado na terça-feira, 19, ao TSE, o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques, se manifestou contra a coleta de s digitais para a criação de partidos. Para Jacques, todo o esforço na Justiça Eleitoral é “devotado ao tratamento dos documentos em papel”.
“Culto”
Concorrido, o primeiro encontro oficial do Aliança pelo Brasil deixou muita gente de fora. Alguns deputados tiveram dificuldade para chegar ao evento. O deputado Junio Amaral (PSL-MG) desistiu de esperar no trânsito que se formou no caminho e andou alguns metros até chegar ao local. Já na entrada, teve de aguardar a conferência do seu nome na lista e enfrentar o aglomerado de pessoas que tentavam entrar. “Não posso colocar ninguém para dentro, não faço parte da organização”, tentava se explicar outro parlamentar que chegou em cima da hora, o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ).
No auditório, o clima lembrava um culto religioso. As intervenções do público aos discursos são incentivadas e aplaudidas. “Deus é tudo!”, gritam os participantes, lembrando as celebrações religiosas.
O empresário Luciano Hang, com seu tradicional terno verde, foi recebido como celebridade, sendo bastante aplaudido. Ele é um dos que compõem o palco ao lado do presidente e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.