Lava Jato: Justiça vazou para “Rei Arthur” seu pedido de prisão
Delator, sócio de empresário delatou ao MPF que ex-secretário nacional preso no Rio de Janeiro teria beneficiado foragido
atualizado
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O empresário Arthur Soares de Menezes, o “Rei Arthur“, teria tomado conhecimento de seu pedido de prisão quase duas semanas antes da operação Unfairplay ter sido deflagrada, em 5 de setembro de 2017. Ele, que é acusado de pagar propina na compra dos votos para os Jogos Olímpicos de 2016, foi delatado por seu sócio no LSH Hotel, Ricardo Siqueira Rodrigues, ao Ministério Público Federal (MPF). São informações de O Globo.
Segundo Rodrigues, o vazamento do pedido de prisão aconteceu quando Astério Pereira do Santos, preso nesta quinta-feira (05/03) na Lava Jato por envolvimento no esquema de Sérgio Cabral, era secretário nacional de Justiça e teria feito com que a informação chegasse a Arthur, de quem era muito próximo.
Graças ao alerta, “Rei Arthur” não foi encontrado e seu nome ou a figurar na lista de procurados da Interpol. Após saber do pedido, ele teria voado no mesmo dia de Portugal para os Estados Unidos, onde firmou acordo de colaboração premiada que impediu a sua deportação para o Brasil.
No Anexo 24 de sua colaboração com o MPF, o delator afirmou que ao visitar Arthur no dia 25 de agosto de 2017, em Portugal, quando o empresário já era investigado por ligação com o esquema Cabral, estranhou a reação do sócio depois que ele atendeu a uma ligação do Brasil.
Total confiança
Após o telefonema, Arthur viajou aos Estados Unidos no mesmo dia. Seis meses depois, Arthur confidenciou a ele durante um almoço em Miami que tinha feito acordo de colaboração com o Departamento de Justiça norte-americano e que a ligação que recebera em Portugal era de uma pessoa de sua “total confiança” que o avisou de sua iminente prisão.
Arthur contou, de acordo com o delator, que a Justiça brasileira havia encaminhado o pedido de prisão via cooperação jurídica internacional para os Estados Unidos e que, “em razão disto, teria retornado aos EUA, no mesmo dia, ou no dia seguinte”, para firmar acordo de colaboração premiada com as autoridades norte-americanas.
Esquema de propina
O “Rei Arthur” confirmou o esquema de pagamento de propina para delegados africanos na escolha do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016. A revelação faz parte dos termos de um acordo de colaboração premiada que está em andamento junto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ).
Foi a colaboração, inclusive, que o salvou do risco de deportação para o Brasil, após ser detido em Miami.
A operação Unfairplay foi deflagrada no dia 5 de setembro de 2017, 10 meses depois da prisão do ex-governador Cabral. Além da prisão de Arthur, o MPF intimou o então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, que meses depois foi preso também acusado de participar do esquema de corrupção no processo de escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos 2016.
Em outubro de 2019, o “Rei Arthur” chegou a ser preso nos EUA. A prisão, no entanto, não durou nem 24 horas e ele foi posto em liberdade após os advogados entregarem todos os documentos exigidos para a renovação de seu visto.