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Índice inédito mede a vulnerabilidade da população LGBT+ à Covid-19

Coletivo #voteLGBT entrevistou quase 10 mil pessoas para saber como a pandemia afeta cada representante da sigla, em diferentes recortes

atualizado

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Bruno Taran
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“A pandemia me quebrou de todas as formas possíveis.” A fala é de alguém acostumado a se reconstruir. Bruno Taran, 32 anos, homem transexual e pessoa com deficiência, já esteve em situação de rua e tornou-se um sobrevivente da Covid-19. Ele, a mulher e o filho mais velho, de 5 anos, tiveram o vírus, em abril.

Para além das dores de cabeça, da falta de ar, da ausência de olfato e paladar, e do medo de perder a vida, a família ainda vive as consequências socioeconômicas da pandemia. Bruno é massoterapeuta e ficou sem trabalho. A mulher trabalha com telemarketing e viu a renda diminuir. Eles criam juntos os dois filhos de uma relação anterior dela, dos quais Bruno pretende assumir a paternidade socioafetiva assim que for possível.

Bruno representa um universo amplamente vulnerável aos impactos do coronavírus. Neste domingo (28/6), Dia Internacional do Orgulho LGBT+, o coletivo #VoteLGBT apresenta um índice inédito que consegue medir a vulnerabilidade LGBT à Covid-19.

Foram entrevistadas on-line quase 10 mil pessoas para saber como a pandemia afeta cada representante da sigla, em diferentes faixas etárias e recortes de gênero e sexualidade. Uma equipe de 14 pessoas trabalhou desde a construção do questionário até a análise dos dados relativos ao o a serviços de saúde, exposição ao coronavírus e informações sobre renda e trabalho.

O resultado demonstra que transexuais e travestis são as pessoas mais vulneráveis aos impactos do isolamento social, seguidas pelas pessoas pretas, pardas e indígenas LGBT+. As conclusões finais da pesquisa serão apresentadas neste domingo em um relatório realizado em parceria com a Box1824, consultoria de tendências em comportamento e inovação.

Os pesquisadores concluíram que a pandemia de coronavírus pode impactar as vidas das pessoas LGBT+ de formas múltiplas e cumulativas. Analisados em conjunto, os fatores contribuem para o entendimento sobre a capacidade das pessoas em se sustentar e se manter em isolamento social.

Os pesquisadores também perguntaram aos participantes a respeito do nível de isolamento social praticado, o número de pessoas conhecidas que já foram diagnosticadas com coronavírus, o o aos serviços de saúde e diagnóstico prévio de comorbidades.

Todas essas características possibilitaram o desenvolvimento do índice de Vulnerabilidade de LGBT+ à Covid-19 (o VLC), utilizando a mesma metodologia do índice de vulnerabilidade social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O VLC é um índice que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo a 1, maior a vulnerabilidade à Covid-19 do grupo analisado.

O índice de vulnerabilidade entre pessoas trans é de 0.520. Entre pessoas LGBT+, em geral, é de 0.488. O índice menos elevado ficou entre brancos e asiáticos (0.474).

“Exposição ao risco é uma combinação de vulnerabilidades. Olhamos duas medidas: se a pessoa conhece alguém que foi diagnosticado e se estava ou não fazendo isolamento social. Muitas pessoas LGBT têm vários estigmas, especialmente as pessoas trans, são expulsas de escolas cedo, têm trabalhos precarizados e durante a pandemia são obrigadas a sair de casa porque precisam comer”, explica o demógrafo da UFMG Samuel Silva, um dos responsáveis pelo trabalho.

Já no campo “saúde” pesam dois indicadores principais: ter ou não plano de saúde e apresentar comorbidades que podem agravar o caso de pacientes com coronavírus (diabetes, hipertensão, câncer e doenças autoimunes, por exemplo).

A dimensão de renda e trabalho foi a que apresentou maior discrepância entre os LGBT+ nas faixas de vulnerabilidade, o que torna as desigualdades mais latentes. Enquanto pessoas cisgênero, em especial homens cis, gays, pessoas brancas e asiáticas estão em vulnerabilidade baixa, pessoas trans, mulheres cis, pessoas pretas, pardas e indígenas, lésbicas e bissexuais apresentam vulnerabilidade média.

A história de vida de Bruno Taran, que nasceu em corpo biologicamente feminino, reafirma as conclusões da pesquisa. Quando ele começou o processo de transição, aos 16 anos, a mãe, por questões relacionadas à religião, o expulsou de casa. “Achei que amor de pai e mãe era incondicional, que sempre poderia contar com eles, mas me enganei.”

“A vida toda sofri agressão física, estive em situação de rua três vezes, já tentei suicídio duas. Agora eu decidi começar uma vida nova, casar, parar de fumar de beber, criar os meus filhos. A pandemia vem como mais um desafio”, afirma.

Bruno se reconhece como não-binário (sua identidade de gênero ou expressão de gênero não está limitada às definições de masculino ou feminino). “Sou não-binário trans masculino. Não tenho disforia corporal nem tenho interesse até então de fazer cirurgia”, diz.

Fases da vida

Um dos resultados alcançados pelo mapeamento foi identificar os contrastes nas diversas fases das vidas LGBT+. “Se na adolescência essas dificuldades de comunicação de identidade são permeadas pela falta de independência financeira, na fase adulta questões de saúde mental são combinadas com ausência de trabalho e renda. Já nas idades mais avançadas, a solidão aparece como um dos maiores desafios”, resume Samuel Silva.

“Quando você pensa em LGBT pensa muito na pessoa mais jovem, no fervo, mas as pessoas LGBT são diversas e, assim como qualquer ser humano, envelhecem e am a sofrer todas as questões do envelhecimento combinadas a essa carga de estigma que tiveram na vida toda”, complementa.

Essa é a segunda etapa de divulgação dos dados coletados pela pesquisa do #VoteLGBT. Na primeira parte, feita em maio, os pesquisadores mapearam as principais dificuldades entre os LGBTs durante o isolamento social: o diagnóstico prévio de depressão entre eles e elas é quatro vezes maior, se comparado ao restante da população, enquanto o índice de desemprego entre LGBTs foi o dobro do demonstrado pelos demais, segundo a pesquisa PNAD Contínua divulgada pelo IBGE em abril.

Doações

Como ação efetiva pensada para minimizar impactos do isolamento social durante a pandemia, o #VoteLGBT lança uma campanha que visa arrecadar fundos para apoio de entidades que prestam ações de amparo à comunidade LGBT+.

Em parceria com a plataforma Benfeitoria, que está ampliando sua atuação no segmento LGBT, a iniciativa vai apoiar instituições em várias cidades brasileiras, entre elas Casa Satine (MS), Outra Casa Coletiva (CE), Casamiga (AM), Ultra (DF), Liga Brasileira de Lésbicas (PR) e Casa 1 (SP).

Outras duas iniciativas do coletivo foram criadas em tempos de pandemia tentando reduzir os impactos do isolamento social. Uma delas é o LBGTFLIX, uma galeria de vídeos que reúne mais de 200 filmes com temáticas sobre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros.

As produções audiovisuais estão disponibilizadas gratuitamente . “Juntas em Tempos de Treta” é uma “LGBTeca” que reúne textos de autoras e autores LGBT+. A cada semana, novos textos são divulgados no endereço www.votelgbt.org/juntas.

Os resultados do estudo serão encaminhados para parlamentares ligados à causa LGBT e outros formuladores de políticas públicas. “O governo pode até não fazer nada com isso, mas não poderá dizer que não sabia. Estamos mostrando o que pode e precisa ser feito”, diz Samuel.

Solidariedade

Bruno Taran está entre as pessoas que precisou de ajuda para poder se alimentar durante o isolamento social. Além de receber auxílio emergencial do governo brasileiro, inscreveu-se para ganhar cestas básicas do Centro LGBTS+ de Brasília, que tem feito acompanhamento e prestado apoio a essa população no DF.

“Dentro da vulnerabilidade, a gente está mais vulnerável. Empresas, governos, instituições focaram em mulheres, na periferia, com uma justificativa clara, mas nós estamos dentro desses grupos e temos mais algumas vulnerabilidades”, relata o responsável pelo Centro LGBTS+ de Brasília, Julio Cardia.

O Centro LGBTS+ de Brasília realiza campanhas desde o início da pandemia para ajudar a comunidade. Já conseguiu mais de R$ 50 mil entre doações e vendas de produtos, como máscaras, que são produzidas por pessoas representadas pela sigla.

O valor é investido em cestas básicas, como as que a família de Bruno recebe, distribuição de marmitas para moradores de rua e outras necessidades emergenciais.
São mais de 450 famílias cadastradas e 1.500 pessoas LGBT assistidas. “Para quem já é abandonado várias vezes ao longo da vida, ter apoio nesse momento é crucial para poder ir em frente”, avalia Cardia.

“A comida não é só comida, é esperança. É ouvir: alguém está preocupado comigo”, diz Julio Cardia.

Neste domingo (28/6) será realizada, de forma virtual, a 23ª Parada do Orgulho Gay de Brasília. Para acompanhar, basta ar a página Brasília Orgulho, no Facebook, ou o perfil @brasiliaorgulho, no Instagram.

Também é nesta data que celebra-se o aniversário da Rebelião de Stonewall, uma série de manifestações de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn.

“A nossa comunidade depende do encontro. A gente não se encontra em casa, na igreja, lugar nenhum nos acolhe. A Parada é um dia em que você pode ser o que você é e ninguém vai te julgar”, explica Julio.

Outro exemplo de pessoa do meio LGBT que foi prejudicada pela pandemia é Allice Bombom, uma das drag queens mais famosas de Brasília, que já foi madrinha de paradas em diversos estados do Brasil. Ela complementava a renda vendendo doces nos bares da cidade e teve queda de 50% na renda mensal.

Allice tem feito propaganda de seus produtos para receber encomendas on-line, mas não conseguiu manter a remuneração usual. Ela também faz animações em eventos e trabalha como atriz, ambas atividades suspensas com o isolamento.

“Isso pegou todo mundo de surpresa, afetou demasiadamente especialmente quem depende de evento. Eu preciso das animações, das festas, da atuação como vendedora nos bares”, lamenta.

Allice mora sozinha em um apartamento em Taguatinga e tem várias amigas na mesma situação. “A gente se apoia nos amigos, segura na mão uma da outra e se faz presente mesmo que seja com um abraço virtual. O negócio é se ocupar, se não a gente fica doido”, afirma.

Para amenizar esses impactos do isolamento nos últimos meses, o Centro LGBTS+ de Brasília vem realizando uma série de programações com lives, debates sobre saúde mental, apresentações virtuais de dança e outras formas de arte. “Um mix do arco-íris que está acima da nossa comunidade”, diz Cardia.

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Bruno Taran
Allice é presença constante em Paradas LGBTs do DF
“Fiquei este mês sem produzir e tive que cancelar a participação em alguns eventos. Ainda estou muito fraca e não tenho ideia de quando voltarei às atividades”, conta a artista em entrevista.
"Se você não se adaptar, você perde trabalho. Eu, nas minhas animações, procuro me reinventar. E é por isso que existo até hoje", conta a drag
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Bruno Taran

Arquivo pessoal
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Bruno Taran

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Allice é presença constante em Paradas LGBTs do DF

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“Fiquei este mês sem produzir e tive que cancelar a participação em alguns eventos. Ainda estou muito fraca e não tenho ideia de quando voltarei às atividades”, conta a artista em entrevista.

Arquivo Pessoal
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"Se você não se adaptar, você perde trabalho. Eu, nas minhas animações, procuro me reinventar. E é por isso que existo até hoje", conta a drag

Confira outros apontamentos e conclusões alcançados pela pesquisa da #voteLGBT:

• Pessoas acima dos 55 anos apresentaram 80% mais chances de reportar solidão como o maior problema quando comparados com as pessoas de 15 a 24 anos.
• A falta de dinheiro também foi um problema que aumentou sua relevância com o aumento da idade. Entre as pessoas com 45 a 54 anos, a chance de indicar essa como a maior dificuldade da quarentena foi 70% maior em relação às pessoas com entre 15 e 24 anos;
• Pretos, pardos e indígenas possuem 22% mais chance de indicar a falta de dinheiro como a maior dificuldade da quarentena do que brancos e asiáticos
• 4 em cada 10 pessoas das pessoas LGBT+ e metade das pessoas trans (53%) não conseguem sobreviver sem renda por mais de 1 mês caso percam sua fonte de renda;
• Quase metade (44,3%) das pessoas tiveram tiveram suas atividades escolares totalmente paralisadas durante o isolamento;
• A taxa de desemprego padronizada entre os LGBT+ foi de 21,6%, quase o dobro do registrado pelo IBGE no restante da população;
• 3 em cada 10 dos desempregados estão sem trabalho há 1 ano ou mais;
• 1 em cada 4 (24%) perderam emprego em razão da Covid-19;
• Durante a quarentena, 7 em cada 10 pessoas (68,42%) só saem de casa quando inevitável;
• 8 em cada 10 pessoas perceberam uma alteração de humor durante a quarentena;
• 28% das pessoas já haviam recebido diagnóstico prévio de depressão, número quatro vezes maior do registrado no restante da população, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde;
• 47% foram classificadas com o risco depressão no nível mais severo.

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