Ex-senador Telmário Mota teria usado fazenda para treinar assassinato
Segundo a polícia, fazenda do ex-senador em Roraima teria sido usada como “centro de treinamento” por grupo que matou ex-mulher do político
atualizado
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A fazenda de propriedade do ex-senador Telmário Mota em Roraima foi utilizada como “centro de treinamento” para disparos de arma de fogo. O político foi preso na noite dessa segunda-feira (30/10), em Goiás, suspeito de ser o mandante do assassinato da ex-mulher Antônia Araújo de Sousa, de 52 anos.
A operação Caçada Real, deflagrada pela polícia, leva o nome da fazenda, já que o local era de grande relevância para os executores do crime. Segundo o titular da Delegacia Geral de Homicídios de Roraima, João Evangelista, o grupo que matou Antônia se preparou para o crime na propriedade rural.
“Houve a utilização de uma área na fazenda para o treinamento de disparos de arma de fogo com alvos de papel. Nós localizamos os alvos, o local exato dos disparos e extraímos partes de uma árvore com os projéteis, que foram encaminhados para a perícia”, disse o delegado ao Metrópoles. No entanto, segundo ele, não é possível afirmar categoricamente que Telmário Mota participou do treinamento.
Fazenda Caçada Real
O imóvel consta na declaração de bens de Telmário Mota apresentada à Justiça Eleitoral em 2022, quando ele tentou a reeleição ao Senado, sem sucesso. Nos dados reados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o político informou que a fazenda era avaliada em R$ 3,3 milhões, tendo 1.200 hectares — o equivalente a mais de mil campos de futebol, aproximadamente. Em 2021, o local ganhou notoriedade após o então senador afirmar que a propriedade havia sido invadida por aproximadamente cem porcos.
Nessa segunda (30/10), a polícia esteve na fazenda em busca do ex-parlamentar, mas ele não foi encontrado no local. Os agentes também fizeram buscas em um apartamento do político em Brasília. Ao todo, a Justiça expediu três mandados de prisão e sete de buscas e apreensão, mas inicialmente só um alvo foi encontrado.
Apontado como suspeito de ter dado o tiro que matou Antônia, Leandro Luz da Conceição foi preso em Caracaraí, no interior de Roraima. Já o sobrinho do ex-senador, Harrison Nei Correa Mota, conhecido como Ney Mentira, suposto responsável por organizar o assassinato com o tio, é considerado foragido.
Testemunha importante
Antônia foi morta com um tiro na cabeça no dia 29 de setembro, por volta das 6h30, quando saía de casa para trabalhar. O crime foi executado por duas pessoas em uma moto. Conforme a investigação, a decisão de matá-la partiu de uma reunião na fazenda Caçada Real.
Ney Mentira teria comprado a moto utilizada pelos criminosos. Ainda segundo os investigadores, o veículo foi adquirido por R$ 4 mil em espécie, estava em nome de outra pessoa e tinha documentação irregular. O sobrinho do ex-senador já era alvo de acusações de homicídio qualificado, estelionato, roubo majorado, furto qualificado e apropriação indébita.
Após a compra da moto, ainda segundo a polícia, Ney Mentira a entregou para a então assessora de Telmário Mota, que levou o veículo até uma oficina para a realização de reparos e revisão. Em seguida, a mesma mulher entregou a moto aos autores do crime em local indicado pelo sobrinho do político.
Durante coletiva de imprensa, o delegado João Evangelista também falou sobre as motivações do crime. Segundo ele, uma das possibilidades é o depoimento que Antônia Araújo de Sousa daria sobre um crime de estupro envolvendo o político e a própria filha do ex-casal. Em agosto de 2022, a jovem de 17 anos o acusou de abuso sexual e registrou um boletim de ocorrência contra ele. Na ocasião, a adolescente afirmou que ele a forçou entrar no carro e tocou suas partes íntimas.