“Eu tô armado”, disse chacareiro antes de atirar em Hipster da Federal
Em depoimento, homem que matou policial federal menciona ameaças contra família antes de invasão de chácara. PF pediu ajuda antes de morrer
atualizado
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Goiânia – Antes de tentar invadir a casa de uma propriedade rural em Buritinópolis, no nordeste de Goiás, o agente da Polícia Federal (PF) Lucas Soares Valença, de 36 anos, o Hipster da Federal, teria ouvido um aviso de que o dono do local estava armado.
“Moço, eu tô armado! Não entra, não!”, teria dito o chacareiro Marcony Pereira dos Anjos, de 29 anos.
O relato detalhado consta no depoimento do proprietário do imóvel invadido. Lucas teria arrombado a porta da casa e o dono da chácara atirou. O policial foi atingido na altura do peito e morreu no local, na noite da quarta-feira (2/3).
A informação sobre a morte foi revelada pela coluna de Guilherme Amado no Metrópoles.
Ameaças
De acordo com os depoimentos das testemunhas – no caso, o próprio chacareiro e a esposa dele –, o policial teria ameaçado matar a família na chácara, no povoado de Santa Rita.
“Se ninguém vai abrir a porta para mim, eu vou arrebentar a porta e vou matar vocês tudo que tá aí dentro”, disse o policial federal, segundo depoimento de Marcony.
O homem estava dentro da residência com a esposa, de 20 anos, e o filho do casal, de 3 anos. Ele disse que atirou em direção de Lucas Soares em legítima defesa, após o policial desligar o padrão de energia e arrombar a porta da casa.
Medo
Antes de atirar, Marcony teria implorado para que o policial deixasse a casa. Naquele momento, o dono da chácara não sabia que Lucas era o Hipster da Federal. O agente da PF estava tendo um surto psicótico – segundo relatos de familiares e amigos, e conforme registrado no boletim de ocorrência.
Como o invasor não se conteve, o chacareiro atirou. A bala acertou a região abaixo do peito de Lucas, que saiu para fora de casa e avisou: “Me ajuda, eu sou policial”. Em seguida, ele caiu na porta da residência, respirando ofegante.
Cruz e capeta
O “Hipster da Federal” teria aparecido na chácara em dois momentos da noite de terça-feira, antes de tentar invadir a casa e ser morto.
Segundo Marcony, na primeira aparição, a família estava deitada em uma cama, quando ouviu a cachorra de estimação latir e gritos de um homem.
“Aparece aqui, eu sei que tem gente aí dentro. Senão eu vou fazer uma cruz e quem tá aí dentro tá no quadrado do capeta. Eu vou cuspir aqui na área”, teria gritado a voz masculina, que mais tarde se revelaria o policial federal.
Lucas ainda teria sentado em uma cadeira na área e pedido desculpas por cuspir. Depois, saiu assobiando e correu atrás de um carro que ou pela rua.
Arma modificada
O dono da chácara alega que, em um primeiro momento, decidiu ficar calado dentro de casa com a família, pois achou que aquilo era alguma briga de rua.
Na segunda aparição do policial federal, ocorreu a tentativa de invasão. Lucas arrombou a porta da casa e foi baleado.
Marcony relatou para a polícia que estava dormindo e foi acordado pela esposa assustada com os barulhos de alguém andando do lado de fora.
O dono da chácara, então, pegou uma arma de pressão modificada calibre .22 e a deixou municiada. O armamento foi adquirido há quatro anos em Formoso, Minas Gerais, trocado por um som de carro.
Tiro no escuro
No momento do disparo, estava bastante escuro, já que a energia elétrica tinha sido desligada manualmente pelo invasor. A casa estava sendo iluminada apenas por um poste de energia da rua.
Depois de balear Lucas, Marcony ligou para a Polícia Militar e pediu uma ambulância. A viatura e o socorro chegaram cerca de 35 minutos depois, segundo depoimento.
O óbito do policial foi constatado e parentes dele chegaram algum tempo depois, relatando o surto psicótico para os militares. Os familiares da vítima ainda serão ouvidos na delegacia. O local foi isolado e ou por perícia.
Marcony vai responder por posse ilegal de arma de fogo. Ele chegou a ser preso em flagrante, mas foi solto depois de pagar fiança de R$ 2 mil. A Polícia Civil investiga o caso como legítima defesa.