SP: Alavancado pelo bolsonarismo, Tarcísio tenta acabar com mito do “forasteiro”
Ex-ministro colou em Bolsonaro na reta final da campanha de olho no 2º turno e busca ser o primeiro governador eleito que não nasceu em SP
atualizado
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Quando o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) cedeu à pressão do presidente Jair Bolsonaro (PL) e aceitou se candidatar a governador por São Paulo, no fim de 2021, a elite política paulista cravou que o candidato “forasteiro” não teria a menor chance de vencer a corrida estadual.
Considerado um intruso na eleição paulista por ter nascido no Rio de Janeiro e mudado seu domicílio eleitoral de Brasília para São Paulo meses antes da campanha, Tarcísio foi desacreditado até por políticos de partidos aliados, como o PL, que aderiram à candidatura do governador Rodrigo Garcia (PSDB).
“Já avisei o Tarcísio que a tendência é ele ser engolido pelo Rodrigo. A gente sabe como as coisas funcionam na política. Quando perceberam que o Rodrigo tem muito mais chances de vencer, vão mudar de lado rapidinho”, disse um desses políticos semanas antes do início da propaganda eleitoral.
ados 45 dias de campanha, o ex-ministro da Infraestrutura chega às vésperas da eleição altamente competitivo para desbancar o candidato tucano e ir ao segundo turno, acabando com 28 anos de hegemonia do PSDB no comando do estado. Pesquisa Datafolha divulgada nessa quinta mostrou Tarcísio crescendo e chegando a 31% dos votos válidos (ante 28% na última pesquisa). Garcia, por outro lado, oscilou um ponto para baixo, e ficou com 22% (antes, tinha 23%).
Os dois travam uma disputa acirrada para ver quem enfrentará o petista Fernando Haddad no segundo turno, que aparece com 41% dos votos válidos no primeiro turno.
Essa condição se deve muito mais à força do bolsonarismo em São Paulo do que à estratégia de campanha em si. A candidatura de Tarcísio foi alavancada pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que tenta garantir um palanque forte no maior colégio eleitoral do país caso consiga levar para o segundo turno a disputa nacional contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No começo da campanha, Tarcísio tentou se desvencilhar da imagem de Bolsonaro com o objetivo de mostrar que não é radical como o presidente da República e atrair eleitores de centro. Mas com o crescimento de Rodrigo Garcia nas pesquisas, o ex-ministro colou de vez em Bolsonaro na reta final de campanha para tentar garantir a vaga no segundo turno.
A estreia eleitoral do engenheiro de 47 anos foi marcada por uma campanha considerada amadora até por correligionários e por deslizes do próprio candidato, como não saber responder durante uma entrevista na TV em qual colégio votará neste domingo (2) — ele transferiu o título para São José dos Campos, onde moram familiares, e chegou a ser alvo de uma ação por isso na Justiça Eleitoral e acabou vencendo.
Tarcísio também sofreu desgaste por causa da presença de alguns aliados polêmicos em seu palanque, como o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PTB-SP), que foi preso e condenado por corrupção na Operação Lava Jato, e o deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos), que agrediu verbalmente uma jornalista durante um debate.
Todos os pontos fracos foram explorados na campanha pelos adversários, principalmente pelo governador Rodrigo Garcia, que se apresentou na propaganda eleitoral como “paulista raiz”, com o objetivo de impedir que o “forasteiro” consiga fazer o que nenhum outro candidato fez nos últimos 28 anos, que é derrotar o PSDB no estado.
Desde a volta das eleições diretas ao governo estadual, em 1982, todos os dez governadores eleitos em São Paulo nasceram e fizeram carreira política no estado.