Ensino bilíngue traz vantagens sociais e prepara jovens para o mercado
Escolas se adaptam para oferecer ensino em outro idioma. Ao menos 270 mil alunos estudam em colégios que disponibilizam segunda língua
atualizado
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Aprender inglês, francês ou alemão na escola é um diferencial que muitos pais buscam nos dias de hoje, principalmente pensando no futuro profissional dos filhos. Dados da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi) estimam que mais de 1,2 mil escolas privadas oferecem ensino bilíngue. Do total de 9 milhões de estudantes do infantil e fundamental, aproximadamente 270 mil estão matriculados em unidades que disponibilizam outro idioma além do português durante o ensino.
A estudante Paola Zanella Torres, 14 anos, frequenta a Escola sa de Brasília desde o ensino fundamental e aprende francês, inglês e português. Ela conta que os pais optaram por uma educação bilíngue por acreditar que teria mais oportunidades no futuro. “Acredito que é uma escola com bastante diversidade cultural, já que tem muitos estrangeiros. Na hora do recreio, por exemplo, tem gente falando inglês, francês, árabe, espanhol”, conta. “Certamente a escola me dá uma visão maior do mundo”, conclui Paola.
Segundo a coordenadora do curso de pós-graduação em Educação Bilíngue do Instituto Singularidades, Antonieta Megale, com a globalização, há uma alteração substantiva no panorama social, cultural e linguístico mundial, o que leva a maior valorização de outros idiomas. “Nesse sentido, ser escolarizado por meio de duas línguas pode possibilitar maior mobilidade e maior o a informações e bens culturais diversos”, afirma.

“Os alunos têm a oportunidade de contato com discursos diferentes dos seus. O repertório desses alunos pode ser ampliado e enriquecido com outras visões de mundo que os fazem repensar os discursos produzidos em sua própria comunidade”, conclui a professora de linguística e especialista.
No entanto, apesar do crescente interesse por este tipo de ensino, o gigantismo do território e da população brasileira dificultam a implantação de qualquer projeto de estímulo no país. A falta de regulamentação federal também é um obstáculo. Para se ter uma ideia, enquanto o percentual de escolas bilíngues em nações como Argentina, Uruguai e Chile chega a 8%, no Brasil esse número chega a apenas 3%.
Para a especialista, é necessário entender melhor o fenômeno desse tipo de educação no país. “Há muitas crenças e mitos relacionados a essa área, mas que não têm nenhuma sustentação teórica ou metodológica”, explica. Ela é também professora de linguística e afirma que a falta de capacitação específica para docentes é outro problema. “A formação de professores no cenário nacional se resume a pouquíssimos cursos de pós-graduação lato sensu e cursos de extensão e a formação in-service realizada dentro das próprias escolas”, afirma Antonieta.
O currículo de um colégio bilíngue não se limita a oferecer aulas em uma segunda língua. Disciplinas tradicionais como ciências, matemática, química e outras são ministradas em outro idioma que não o português. A instituição deve seguir as diretrizes do Ministério da Educação em relação ao conteúdo, porém, a indicação é de que as crianças comecem a educação bilíngue já no período de alfabetização. No entanto, cabe a cada escola estabelecer o momento em que focará na oferta de cada idioma. Em alguns casos, até o calendário letivo é diferente.
Guilherme Pierantoni, 31 anos, estudou da quinta série do Fundamental até o último ano do ensino médio na Our Lady of Mercy School, escola americana bilíngue localizada no Rio de Janeiro. A instituição tem algumas peculiaridades típicas de colégios internacionais. Além de comemorar os tradicionais feriados dos Estados Unidos, as férias de dezembro são mais curtas e as de julho, mais longas. Guilherme conta disciplinas tradicionais e até aulas de educação física, artes, computação e música eram ministradas em inglês. O currículo ainda previa eletivas como política americana, aulas de espanhol, clube de literatura, design, entre outras.

Atualmente trabalhando no mercado de pesquisas em São Paulo, Guilherme estudou durante alguns anos no ensino superior dos EUA – primeiro em Ohio e depois em Boston. Para ele, o ensino bilíngue foi uma ponte.
A fluência em um outro idioma ainda possibilita ter o a melhores oportunidades no mercado e conquistar cargos e remunerações mais atraentes. De acordo com uma pesquisa realizada pela Catho com 13 mil pessoas, a diferença salarial entre profissionais – nível de coordenação – com domínio do inglês chega a 61%.