Bolsonaro tenta emplacar nome a governo de SP e escanteia Weintraub
Presidente prefere candidatura do ministro Tarcísio Freitas, mas enfrenta resistência no seu partido, o PL
atualizado
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São Paulo – No afã de eleger um aliado e conseguir votos em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) pressiona o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, a sair candidato ao governo paulista, mesmo sem que ele tenha domicílio eleitoral ou história de vida no estado. A preferência de Bolsonaro se choca com a vontade dos caciques paulistas do PL, que buscam uma coligação com o candidato tucano, o vice-governador Rodrigo Garcia.
Enquanto Tarcísio decide se vai se filiar ao PL, transferir domicílio eleitoral e se candidatar, Bolsonaro continua em busca de um palanque para fortalecer suas chances de vitória na corrida eleitoral de 2022. Entretanto, a preferência do mandatário escanteia um bolsonarista ferrenho que tenta se viabilizar candidato: o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub.
Depois de conseguir uma vaga como diretor do Banco Mundial, Weintraub avalia se pede demissão, volta ao Brasil e se filia ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), comandado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, para se candidatar ao governo de São Paulo no ano que vem.
“Weintraub vai se candidatar, sem dúvida nenhuma”, afirmou ao Metrópoles o advogado Victor Metta, assessor do ex-ministro, que diz que a iniciativa independe do apoio de Bolsonaro.
No PTB, o discurso é que Weintraub também pode disputar o Senado, caso apareça outro candidato a governador alinhado com o que se chama de “pauta conservadora”.
O vice-presidente do PTB em São Paulo, Flávio Beall, explica que a sigla planeja a realização de prévias para a escolha de candidato ao Governo de São Paulo e que Weintraub é uma das apostas fortes.
“Ele ainda não está nem no Brasil, mas é bastante forte assim como o alinhamento total dele com pautas conservadoras”, afirmou.
O dirigente do PTB avalia que seria um equívoco de Bolsonaro concentrar apostas em Tarcísio, pois não vê como criar uma narrativa de apelo eleitoral para um ministro que cuida essencialmente de privatizações, enquanto os paulistas reclamam do excesso de pedágios nas estradas, por exemplo.
“Tarcísio tem excelentes qualidades: técnico, formação militar, absolutamente responsável, gestor qualificado. Mas a pauta para o paulista que faz falta hoje é educação e qualidade do serviço público. Tarcísio não é atuante nessa agenda. Não acho que seja a melhor escolha do presidente, em que pese todos os outros predicados do Tarcísio”, avalia.
Pesquisas
Na última pesquisa Ipespe, divulgada no começo de dezembro, Tarcísio alcançava 8% das intenções de voto, atrás de Geraldo Alckmin (23%), Fernando Haddad (19%) e Guilherme Boulos (11%), enquanto Weintraub não pontuava e o ex-governador Márcio França (PSB) não era considerado no cenário.
Esse retrato recente é melhor para Tarcísio, mas pior para Weintraub, em relação à última pesquisa Datafolha, de setembro, quando o ex-ministro da Educação brigava pela lanterna da disputa, com 1% das intenções de votos. Tarcísio estava ligeiramente acima, com 4% das preferências, mas bem abaixo de Geraldo Alckmin (26%), Fernando Haddad (17%), Márcio França (15%) e Guilherme Boulos (11%).
Para o cientista político Andrei Roman, diretor da consultoria Atlas Político, as intenções de voto em Weintraub e Tarcísio não são exatamente preferências por eles, mas, na verdade, herança de votos de Bolsonaro.
Roman avalia que a tendência é que a corrida pelo Governo de São Paulo em 2022 seja bastante vinculada à disputa presidencial. “Essa votação do Tarcísio e do Weintraub é uma transferência do bolsonarismo. Igual veremos uma transferência para o candidato que Lula apoiar”, explicou.
Enquanto uma candidatura de Tarcísio segue, por ora, como um devaneio bolsonarista, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, deve comunicar na próxima segunda-feira (13/12) como o partido se comportará em São Paulo no ano que vem.
Bolsonaro ameaçou não se filiar ao PL se a legenda não cedesse o controle do diretório paulista para seu filho Eduardo Bolsonaro. O filho não ganhou o controle local da sigla, que continuou inteiramente nas mãos de Valdemar, mas Bolsonaro se filiou mesmo assim.
O presidente da República queria o comando do diretório paulista, porque caciques do PL em São Paulo, segundo apurou o Metrópoles, preferem entrar na coligação da candidatura do atual vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), do que lançar um postulante próprio.