HÁ VINTE ANOS – A favor da liberdade de imprensa, desde que…
(Publicado aqui em 30 de abril de 2004)
atualizado
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16:37
Hoje pela manhã, ao ler “O Globo”, tomei um susto. Li que Lula ofereceu um churrasco a parlamentares do PTB e que lá para as tantas perdeu a cerimônia e contou algumas vantagens. A mais cabeluda delas: “Aí acordei um dia invocado e liguei pro Bush”…
Parece piada de botequim.
Hoje, em visita a uma feira de tecnologia em Ribeirão Preto, o presidente resolveu dizer como deveria ser feito o jornalismo de tv a cabo destinado a audiências internacionais. Transcrevo:
“Cada Estado tem de cuidar da divulgação do seu território, das suas coisas bonitas. E nós temos que cuidar para fazer o Brasil vender isso lá fora. Nós temos canal de televisão a cabo, que mostra lá fora aquilo que a gente vê de violência o dia inteiro, aqui, no Brasil. Qual é a motivação que a gente vai dar para alguém vir para o Brasil, se ficamos mostrando apenas desgraça">
Se os canais abertos ou fechados só mostrassem desgraças, aqui ou lá fora, não teriam audiência. Não tendo, perderiam anúncios. De tanto perderem anúncios, quebrariam.
Portanto, os donos de canais e os que produzem seu conteúdo não são loucos para proceder assim. Se não são, o conselho de Lula seria perfeitamente dispensável.
Estaríamos apenas diante de uma bobagem a mais dita pelo presidente se a fala dele não expressasse uma corrente de pensamento que tem muitos adeptos ao seu redor.
Outro dia, Luiz Gushiken, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da presidência, falou algo sobre a mídia criar sua própria “agenda positiva” de assuntos.
O que Lula, Gushiken e outros que pensam como eles gostariam mesmo é que a mídia, de preferência, destacasse as coisas boas, ou que eles consideram boas, deixando as ruins um pouco de lado.
Esse é o mal que atinge todos que chegam ao poder.
Todos, mas todos mesmos são defensores entusiastas da liberdade de imprensa – mas desde que ela não os incomode em demasia.