A atração de Bolsonaro pelo “modo Lula” de reagir à prisão
No último caso, fugirá do país
atualizado
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Ao saber que fora denunciado pela Procuradoria-Geral da República pelos crimes de tentativa violenta de abolição do Estado Democrático, golpe de Estado e organização criminosa, a primeira coisa que Bolsonaro disse foi que é “um perseguido político”.
Acrescentou: se tivesse feito “algo”, já teria procurado asilo na Argentina ou nos Estados Unidos. Como “algo” não fez, não pensa em se exilar. No início da noite, e em seu nome, advogados que cuidam de sua defesa disseram que ele acredita na justiça.
Tantas foram as vezes que Bolsonaro já disse coisas que negou depois, voltando a repeti-las para mais tarde negar, sua palavra tem o peso de uma nota de três reais. Em decorrência, por representá-lo, a palavra dos seus advogados também vale nada.
Indiciado pela Polícia Federal, denunciado pela Procuradoria, Bolsonaro está prestes a virar réu, ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal e por fim preso. Não será anistiado pelo Congresso. A Lei da Ficha Limpa não será alterada.
Resta-lhe apenas uma carta que alimenta sua esperança em salvar-se: despertar a fúria dos seus seguidores, a ponto de com ela acuar a justiça e arrastar o Congresso. Diante de mais uma grave ameaça à democracia – quem sabe? -, acabaria absolvido. Pois sim!
É por isso que ele planeja manifestações de ruas a seu favor, a primeira já marcada para o próximo dia 16 na orla de Copacabana, no Rio. É para onde ele irá. Nada impede que seus seguidores, espontaneamente, se reúnam em outras cidades do país.
Na véspera, o período mais longo de democracia no Brasil completará 40 anos. Foi no dia 15 de março de 1985 que o vice-presidente José Sarney tomou posse porque Tancredo Neves, operado às pressas, estava internado em um hospital de Brasília.
A noite do dia 14 foi uma das mais dramáticas da história do país. Tancredo temia que os militares se negassem a dar posse a Sarney. Ao invés de transferir para Sarney a faixa presidencial, o general João Figueiredo saiu do Palácio do Planalto por uma porta lateral.
“Me esqueçam”, pediu Figueiredo, o último ditador do ciclo de 64, antes de voar para seu sítio no Rio reformado por empreiteiras contempladas com obras no seu governo. O país atendeu ao apelo do general, esquecendo-o. Bolsonaro quer o contrário.
A levar-se em conta o que ele muito fala para depois desmentir-se, e o que falam seus áulicos, Bolsonaro aposta que ainda se ará um bom tempo até ser preso. Enquanto isso, entrará no “modo Lula” de reagir à prisão, e, se for o caso, de tirar proveito dela.
Em carreatas, Lula peregrinou pelo país jurando ser inocente antes de ser condenado e preso pelo juiz Sérgio Moro. Preso, manteve sua candidatura a presidente até a véspera da eleição de 2018. Declarado inelegível, apoiou Fernando Haddad (PT).
Bolsonaro é um homem de motociatas financiadas pelos outros. É mais de comícios, também financiados pelos outros, e de conversas no escurinho dos gabinetes a salvo das escutas da Polícia Federal. Quer indicar o candidato da direita à sucessão de Lula.
Se o candidato não se submeter às suas vontades, entre elas a de ser perdoado, Bolsonaro indicará um nome de sua total confiança para não ficar fora do jogo. É o que ele fará. É o que ele sussurra que fará. Quanto a fugir do país, ele não descarta a hipótese.
Para que não fuja, uma tornozeleira eletrônica não lhe cairia mal. A vigilância da Polícia Federal só não basta.
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