O declínio da Argentina (por Ricardo Guedes)
A Argentina entra em declínio com o Milei. Cai a popularidade de Milei, aumenta o índice de pobreza, e a economia não decola
atualizado
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Hoje, os países do Ocidente, “market oriented” em suas diversas formas e graus, am por crise significativa na economia e na política, com a degradação de seus valores. Depois que as ideias de esquerda foram abandonadas por não terem resolvido os problemas sociais nos países onde ocorreram; depois do declínio das democracias liberais, onde as classes médias ficam cada vez mais economicamente comprimidas, desde 1980 para cá; instala-se a direita radical, antidemocrática, que culpa as elites tradicionais pelo declínio das nações. Vimos isso anteriormente com Napoleão III, com Hitler, e com Mussolini.
Vemos isto agora com Orban, Bolsonaro, Trump, Milei e Meloni. Sem falar no crescimento vertiginoso do AFD na Alemanha, que chegou a 19,5% das cadeiras no Parlamento Alemão nas últimas eleições, constituindo-se hoje na segunda maior força política do país. Os novos líderes da direita, não democratas, atacam as elites tradicionais, democratas, que teriam falhado na distribuição de renda em seus países, deixando o Estado ser absorvido por políticos que se enriquecem tendo como contrapartida a manutenção dos privilégios dessas elites tradicionais. E as classes médias “compram” esse argumento, desejosas de estabilidade econômica para a sua sobrevivência. Mas essas novas elites da direita radical, que agora chegam ao poder, constituem a mais regressa das elites, e assim se comportarão, sob o discurso da alteração da ordem social, mas que em nada ajudarão a resolver os problemas da população, somente otimizarão seus próprios lucros. No fim, sobrará o caos.
Na Argentina não poderia ser diferente. Que o MAGA vai fracassar, não há dúvidas. “Make America Great Again” é a destruição dos valores que fizeram dos Estados Unidos o maior país do mundo neste último século, dos princípios do mercado e da liberdade política e de expressão, que criam as bases do consenso para a ação coletiva da nação. A política da atual direita mundial é desagregadora, onde, sempre, o “culpado” é o outro, nos seus atribuídos “inimigos” internos e externos, no discurso do dia a dia na mobilização social, sempre com a absorção dos lucros exclusivamente para si próprios. “Pão e circo” voltam à questão.
Milei, como bem pontuou Edson de Oliveira Nunes em recente artigo, acreditava que do caos social, na destruição das organizações tradicionais, do Peronismo, surgiria o “homem econômico” de Adam Smith, o que não ocorreu. Ao contrário, na desarticulação do existente e sem a inovação social, ocorreu o inverso. Neste ano, como consequência, subiu a desaprovação do governo Milei de 47,3% para 52,7% segundo o instituto de pesquisa Zuban Córdoba. No desempenho pessoal, cresce sua desaprovação para 58,5%. Em 2024, mais 3,4 milhões de pessoas foram adicionadas à linha de pobreza, totalizando hoje quase 16 milhões de pessoas, cerca de 1/3 da população. E a economia não decola, com o World Bank estimando retração de 3,6% do PIB Argentino em 2024.
E a bela Buenos Aires chora.
“Don’t cry for me, Argentina!”
Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago