Moro 2ºTurno: munição de Bolsonaro contra Lula (por Vitor Hugo Soares)
O reatamento da aliança com Bolsonaro reacende planos do ex-juiz da Lava Jato no STF
atualizado
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O inesperado, finalmente, fez uma surpresa neste segundo turno da acirrada reta de chegada para as urnas presidenciais de 30 de outubro. E apareceu no debate dos candidatos ao Palácio do Planalto, domingo ado, na TV Bandeirantes em Pool nacional com a TV Cultura, UOL e Folha. Vindo do Paraná, não surgiu quando, em um dos blocos do confronto, o atual mandatário pôs a mão no ombro do ex e produziu um instante de frisson, ao pedir que Lula ficasse próximo, para escutar sua respostas a uma das perguntas. Inesperado de fato e pra valer, foi quando as câmeras atentas focalizaram o ex-juiz da operação Lava Jato, e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, ao lado de Bolsonaro, abastecendo o mandatário de informações no confronto e falando ao ouvido do candidato, durante a entrevista a jornalistas depois da refrega.
A partir daí, além de criar-se um fato jornalístico novo na campanha presidencial, de peso político e eleitoral específico, os contornos gerais da situação ficaram mais nítidos para os observadores à distância, jornalistas, analistas e telespectadores, quanto aos motivos, de bastidores, responsáveis pelo ex-presidente Lula – que começara o embate com todo gás (e vencer o primeiro bloco, de perguntas dos apresentadores e jornalistas) – ir perdendo fôlego e ficar mais desconfortável, à medida que o debate avançava, e aumentava a audiência da emissora, até ao ponto de perder o controle do tempo e do gestual (fundamentais em confrontos políticos na TV). E cometer o erro palmar – quase inacreditável para um político da sua experiência de palanque de TV – de oferecer quase seis minutos ao adversário do PL (Centrão) para dizer o que quis e como quis, sem contestação: defender seu governo, falar do combate à Covid 19 e da vacinação, da defesa da família e da religião, atacar o petista (com números, cifras e nomes nas mãos), e dizer que a candidatura petista se travava de uma espécie “de volta à cena do crime” no tema que virou calcanhar de Aquiles do candidato do PT e de sua campanha: a Corrupção.
Não por acaso, – após as primeiras imagens do magistrado símbolo da Lava Jato, colado com Bolsonaro, bem a vontade nos estúdios da Band, a questão profissional, factual, jornalística, entrou em cena nas redações do país: “O que Sérgio Moro estava fazendo ao lado de Bolsonaro no debate da Band?”, reproduzo, como exemplo, a manchete no Jornal Digital, de Pernambuco, lido em todo Nordeste, no dia seguinte. Questão que persiste no ar, na País, provocando inúmeras e divergentes análises e interpretações. Sabe-se já que, depois de receber o apoio do ex- magistrado, eleito senador pelo Paraná, Bolsonaro ligou para Moro e o convidou para integrar seu seleto grupo de acompanhantes (e assessores) ao debate. Aceito o convite, pelo ex-ministro da Justiça, foi o que se viu e ouviu e segue dando o que falar. Até a suposição que leio, na Tribuna da Bahia, de que o reatamento da aliança com Bolsonaro reacende planos do ex-juiz da Lava Jato no STF, e até candidatura presidencial de Moro em 2026. Sonhos distantes e improváveis, mas “sonhar não paga agem”, como se diz no Nordeste. Fato, confirmado pelo próprio Bolsonaro ainda no estúdio da Band, “é que o doutor Moro ainda terá alguns almoços comigo, antes da votação no segundo turno”. Precisa desenhar?. O resto, a conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site Blog Bahia em Pauta. E-mail: [email protected]