HÁ VINTE ANOS – A foto diz tudo (sobre o jornalismo) Por TT Catalão
No ado, uma redação masculina; na atual um timaço feminino
atualizado
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O Globo, jornal, faz 80 anos no próximo 29 de julho. Domingo último publicaram uma foto da redação em 1956, portanto há 49 anos. Não sei se por vício profissional (jornalista adora um “o que mais esta foto pode nos dizer”), percebi, de cara, uma clara distinção entre a redação de 1956 e a de 2005: no ado, uma redação masculina; na atual um timaço feminino.
Nem precisa maiores índices estatísticos para mostrar o competente avanço das mulheres nas redações (e em inúmeros outros campos). Em si revela a mudança estrutural da sociedade. Embora continuem as discriminações nos salários desiguais mesmo quando elas exercem a mesma função; embora ainda sejam poucas nos cargos de chefia; ainda aconteça a sobrecarga da dupla jornada – mesmo na classe média sempre sobra cobrança e culpa no tal “abandono dos sagrados deveres maternos” quando a vida profissional pesa.
A foto diz que a coisa vira aos poucos. Embora ainda role a velha carga do macho mantenedor a cobrar um crédito maior na exigência de um mix: dondoca-rainha do lar-boa de cama-terapeuta (para aturar lamúrias e frustrações da falo-carreira).
O que exige reflexão é se o rigor ético no jornalismo tem aumentado. Ainda não. A maioria só comete jornalismo de verdade pela conveniência da reportagem que não toque em seus mantenedores, apadrinhados políticos ou patrocinadores mais fortes. Aos inimigos, cobertura implacável. Aos amigos, omissão.
Se convém aos chefes: campanha, pesquisa, conexões, investigação e plantão cívico. Se a coisa ameaçar o faturamento: deixa pra lá e fica no “dá uma notinha porque todo mundo vai dar”, mas esquece.
O país em mudança cai na real sob velocidade estarrecedora. O gargalo eleitoral de 2006 estreitou em ritmo alucinante. As redações viraram subsidiárias agrícolas das candidaturas 2006: todo mundo “planta”.
Tomará que as mulheres consigam fazer da presença na foto, em que predominam, uma realidade moralmente radical pelo jornalismo de verdade. A luta pela Justiça começa nas redações. Antes de virar matéria de capa, linguagem pomposa de editorial ou prêmio da categoria. Quem sabe, “mudando como um deus o curso da história, por causa da mulher”, como cantou Gil em 1979. Será? Ou vamos repetir o mesmo modelo de hipocrisia, sacanagem e mentira que o tal mundo masculino perpetua? Sei lá…
(Publicado aqui em 30 de maio de 2005)
