body { font-family: 'Merriweather', serif; } @font-face { font-family: 'Merriweather-Regular'; src: local('Merriweather-Regular'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-regular.woff2') format('woff2'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-regular.woff') format('woff'); font-display: swap; } @font-face { font-family: 'Merriweather-Bold'; src: local('Merriweather-Bold'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-bold.woff2') format('woff2'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-bold.woff') format('woff'); font-display: swap; } @font-face { font-family: 'Merriweather-Heavy'; src: local('Merriweather-Heavy'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-heavy.woff2') format('woff2'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-heavy.woff') format('woff'); font-display: swap; } @font-face { font-family: 'Merriweather-Italic'; src: local('Merriweather-Italic'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-italic.woff2') format('woff2'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-italic.woff') format('woff'); font-display: swap; }
metropoles.com

Adolescência – O ódio às mulheres (Por Bruna Camilo e Camila Galetti)

Série da Netflix denuncia uma epidemia que tem invadido a vida dos meninos e homens: o ódio contra meninas e mulheres

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Ben Blackall/Netflix
Adolescência – Netflix
1 de 1 Adolescência – Netflix - Foto: Ben Blackall/Netflix

A série britânica Adolescência tem sido amplamente elogiada por sua abordagem realista dos temas que se propõe a discutir. O uso de tomadas contínuas cria uma sensação de imediaticidade, aumentando o impacto emocional da história. Críticos e espectadores a consideram um divisor de águas nas plataformas de streaming, com elogios à sua narrativa envolvente, técnicas de gravação e atuações convincentes. No entanto, para além das técnicas e interpretações, o conteúdo dos episódios denuncia uma epidemia que tem invadido a vida dos meninos e homens: o ódio contra meninas e mulheres. Embora não seja é possível datar quando masculinistas e outros grupos misóginos começaram a se organizar, fato é que, com a internet, inauguramos outra forma de o à informação, organização de pessoas e, também, de ódio e desinformação. Contudo, precisamos compreender algo que é anterior à internet: a socialização masculina.

A socialização masculina é carregada de violência, performances cis e heteronormativas. Desde o momento em que se descobre que o bebê possui um pênis, a sociedade projeta sobre ele expectativas e comportamentos que reforçam a masculinidade hegemônica, como se a genitália determinasse, de forma incontestável, sua identidade de gênero. O que chamamos aqui de masculinidade hegemônica é um conjunto de comportamentos e características comuns perpetuadas por meio da estrutura patriarcal. Assim, homens são socializados a não chorar, expor agressividade, reafirmar constantemente uma postura de força e controle e muito menos expor seus sentimentos e fragilidades, consolidando um modelo de masculinidade que oprime tanto a eles próprios como àqueles ao seu redor.

Embora o personagem principal não esboçasse nenhuma ação violenta, a internet mostrou a ele um espaço de organização do ressentimento por meninas e, posteriormente, a violência foi escancarada e, ao mesmo tempo, silenciosa. Essa prática contra si e contra os “inimigos” é uma forma, se não a principal, de demonstrar sua virilidade, potência, pertencimento a grupo, mas, principalmente, vingança contra quem não se submete. O sociólogo Daniel Welzer-Lang apontou que a legitimidade de um homem em seu grupo não se restringe à negação da feminilidade, mas também em sua contundente depreciação. Diante disso, é possível afirmar que o homem, em busca de seu espaço de pertencimento, performe misoginia como aporte de aceitação, socialização e respeito perante os demais. A forma como os homens socializam e constroem suas identidades afeta não somente a si, mas, sobretudo, as mulheres, que se submetem ao masculino por meio da violência.

A socialização misógina entre adolescentes homens é um tema complexo e preocupante, especialmente quando associado à cultura incel e à chamada “machosfera”. Essas comunidades online promovem ideologias que frequentemente justificam o ódio contra as mulheres e reforçam estereótipos de masculinidade tradicional, que podem levar a comportamentos perigosos e violentos. A cultura incel, ou seja, os celibatários involuntários, é composta por homens ditos heterossexuais, majoritariamente jovens, que se sentem infelizes e frustrados por causa da falta de relações sexuais ou românticas com meninas e mulheres. Eles frequentemente se reúnem em fóruns online, onde discutem temas misóginos e a ideia de que são vítimas de uma sociedade que lhes nega o direito ao sexo. Ou seja, conforme o pensamento incel, é responsabilidade das mulheres a dificuldade em socializar.

A série não apenas denuncia a ascensão do ódio contra meninas e mulheres, mas também nos leva a questionar suas raízes. Para entender como esse fenômeno se estrutura e se perpetua, é essencial voltar ao ponto de partida: a forma como os meninos são socializados.

A relação entre a internet e a misoginia cometida por jovens é marcada pela amplificação de discursos de ódio, normalização de estereótipos de gênero e monetização de conteúdos tóxicos, fatores que reforçam a violência simbólica e física contra mulheres. Redes sociais, plataformas de vídeos e de mensagens se tornaram ferramentas fundamentais para a amplificação da misoginia facilitando a disseminação de ideias que violam os direitos das mulheres. A misoginia tem se tornado um produto rentável por meio de cursos, canais monetizados e comunidades que espalham a narrativa de vitimização masculina. Algoritmos têm entregado conteúdos misóginos para meninos e jovens, seja em formato de humor, informações que geram curiosidade ou que despertam algum sentimento. Dessa forma, são alimentados por uma enxurrada de vídeos e postagens que os fazem se sentirem acolhidos, compreendidos e pertencentes a um grupo, nesse caso, de homens e meninos ressentidos.

A internet enquanto um campo de disputa sem sido uma arena de batalhas nesse sentido. De um lado grupos misóginos e masculinistas cooptando meninos e homens, do outro a busca pela disseminação de informações sobre educação, direitos humanos, combate às violências e desinformações. Mas, afinal, existe ganhador nessa batalha? O perdedor já temos, a sociedade. Viver em uma sociedade patriarcal estruturada no racismo, machismo e outras violências é secularmente um desafio. Quando essa estrutura recebe o apoio das tecnologias, nos deparamos com desafios ainda mais difíceis de lidar. Como monitorar nossos jovens sem sufocá-los? Tudo é responsabilidade da escola e da família?

bell hooks nos lembra que para criar uma criança precisamos de toda uma comunidade. Sim, é necessário compreendermos que viver em coletivo é nos responsabilizarmos coletivamente por todos e todas, para além dos núcleos familiares. No entanto, o neoliberalismo mina essa perspectiva ao promover o individualismo como ideal, levando à precarização das vidas sob a falsa promessa de uma prosperidade alcançada unicamente pelo esforço pessoal. Essa lógica ignora as desigualdades estruturais e desresponsabiliza o coletivo, tornando cada indivíduo o único responsável por seu sucesso ou fracasso.

Vemos essa dinâmica refletida nas escolas retratadas em “Adolescência”: professores exaustos e sobrecarregados, alunos ansiosos, agitados e frequentemente rotulados como “casos perdidos”. O sistema educacional, operando dentro da lógica neoliberal, não oferece e adequado para docentes nem para estudantes, priorizando desempenho e produtividade em detrimento do bem-estar e da formação humana. Dessa forma, educar jovens nesse contexto significa prepará-los para uma vida adulta marcada pelo esgotamento, pelo ressentimento e, muitas vezes, pela violência. Pensar em soluções, portanto, exige muito mais do que ajustes pontuais; requer uma reflexão profunda sobre o modelo de sociedade que queremos construir. Uma sociedade verdadeiramente comprometida com o bem-estar coletivo deve superar a lógica neoliberal e recuperar a noção de responsabilidade compartilhada na educação e na vida em comunidade.

 

Bruna Camilo é doutora em Sociologia pela PUC-Minas. Camila Galetti é doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília

Artigo transcrito do Le Monde Diplomatique Brasil +

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os os a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?