A imprensa distraída (por Mirian Guaraciaba)
Por 11 a 0, o STF considerou arbitrário, ilegal e inconstitucional ato do presidente da MI contra jornalista
atualizado
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Nenhuma linha sobre essa decisão do Supremo em favor da liberdade de imprensa.
A decisão unanime do Supremo Tribunal Federal, na última sexta, não chegou a surpreender – poderia, afinal, há dois bolsonaristas atuantes em suas fileiras. A surpresa veio do mutismo da imprensa. Uma nota sequer foi registrada sobre a sentença, que faz história, em favor do repórter Lula Marques, impedido de frequentar a MI dos atos golpistas, por seu presidente, deputado Arthur Maia.
Na defesa de Lula Marques, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, Kakay, frisou que o escopo de sua atuação é “muito mais amplo do que restabelecer os direitos do repórter…. A tese defendida interessa a todos os profissionais de imprensa – e sobretudo – à sociedade brasileira e ao fortalecimento do Estado democrático de direito”.
Nem assim, jornais e sites se permitiram prestar atenção. Esse comportamento, ignorando ação judicial contra a liberdade de imprensa, e desprezando seu desfecho, evidencia sistemático desvio da informação que tem pautado o noticiário. Impressiona como repórteres am ao largo do que de fato interessa. E mergulham no que é irrelevante.
Recentes declarações do Presidente Lula em função de sua bem sucedida cirurgia no fêmur, são bons exemplos disso. Lula disse que não quer ser fotografado com um andador. Claro, foi acusado de capacitista. Lula pediu que não o vissem como velho, andando de muletas. Falou-se em etarismo. A pergunta é: quem disse que o Presidente da República não pode decidir sobre sua imagem? Aliás, onde estavam os críticos durante todos esses anos em que Lula foi chamado de “nove dedos”.
Não apenas a distração da imprensa – e sim a obsessão de muitos jornalistas – pode destruir. Mas também se esforça para fabricar heróis. Não faz tempo, tentou-se transformar um pseudo juiz de Curitiba em personagem celebrado, caçador de corruptos. Agora, senador, amarga denúncias graves que devem – tomara – levar à sua cassação, e prisão. Moro vai responder por desmandos na Operação Lava Jato, e investidas contra desembargadores do STJ. A imprensa distraída não poderá ignorar o desfecho desse caso.
CAMUS – Na petição em favor do repórter, a defesa lembrou Albert Camus: “Uma imprensa livre pode, claro, ser boa ou ruim, mas certamente sem liberdade, a imprensa será sempre ruim”.
Mirian Guaraciaba é jornalista